05/03/2024 teste
VOCÊ SABE O QUE FOI A GRANDE DEPRESSÃO? ENTENDA O QUE FOI A MAIOR CRISE FINANCEIRA DA HISTÓRIA

Problemas do mercado financeiro norte-americano levam à queda da bolsa de valores nos Estados Unidos, que assusta todo o planeta e derruba os principais mercados de ações do mundo. Soa semelhante ao que ocorre atualmente, mas trata-se de 1929, o pior momento já vivido pela economia global: o "crash" da bolsa de Nova York.
 

Entenda como a atual crise americana afeta o Brasil

Se a "segunda-feira negra", que abriu esta semana após a quebra do banco Lehman Brothers, pareceu um momento difícil para os investidores, ela ainda não é nada perto do que aconteceu nos Estados Unidos 79 anos antes. Em 24 de outubro de 1929, a "quinta-feira negra", a queda no valor da bolsa foi de um terço, e deu início a um longo período de dificuldades normalmente apontado como o princípio da Grande Depressão que assolou o país por toda a década seguinte.

"A queda da bolsa em 1929 foi apenas um sintoma do quanto a economia norte-americana estava com problemas. Por mais que o governo dissesse que as bases da economia estavam sólidas, a crise começou a mostrar o que estava por vir por toda a década seguinte, foi um sinal dos problemas econômicos que eram marcantes", explicou ao G1, o historiador Robert McElvaine, professor da Universidade Millsaps e autor do livro "A grande depressão".

 


Causas da crise

 

Assim como em 2008, antes mesmo da data apontada como chave para a crise de 29, a economia já apresentava instabilidade. Enquanto atualmente o foco é nas hipotecas e no mercado imobiliário, na época o problema estava vinculado a uma forte especulação em um mercado sem nenhuma regulamentação, e um mercado consumidor reduzido por conta da recuperação européia após a Primeira Guerra Mundial.

"A sociedade norte-americana vivia um clima de euforia e de consumismo desenfreado, sem que o governo interviesse na economia mesmo com a redução do mercado global. Isso permitiu a especulação e, a partir dela, a crise financeira, uma crise econômica, de produção e de força de trabalho", disse o professor de extensão universitária COGEAE/PUC-SP Wagner Pinheiro Pereira, autor de "24 de outubro de 1929 - A queda da bolsa de Nova York".

 


Depressão

 

Por mais que seja vista como o início dos enormes problemas que assolaram o país nos anos seguintes, os principais historiadores do período não apontam a quebra da bolsa como a principal causa da Depressão. Segundo eles, a política monetária do governo, que evitava intervir, foi a principal responsável. "Se o governo e o Banco Central americano tivessem liberado verbas de socorro em 1929, a Depressão poderia ter sido evitada", disse ao G1 Harold Bierman, professor de economia da Universidade Cornell.

"As bolsas caíram cerca de 40% em outubro de 1929, mas muitas ações recuperaram seu valor até o final daquele mesmo ano. Não era claro que a economia estava desabando naquela época, e muitas pessoas estavam otimistas", completou. Segundo ele, a quebra da bolsa não causou nenhum efeito direto na sociedade americana, por mais que o desespero dos investidores, que chegavam a se matar, seja uma das imagens mais marcantes deste momento da história.

"A Depressão, 24 meses depois, é que teve um enorme impacto na vida das pessoas, quebrando o sistema bancário e fazendo o desemprego disparar", disse Bierman.

O professor McElvaine concorda com a interpretação, e aponta efeitos mais duradouros na cultura norte-americana. "A Depressão do anos 30 teve efeitos devastadores para um terço da população norte-americana, que ficou desempregada. Ela teve efeitos sociais e psicológicos, pois as dificuldades fizeram as pessoas refletirem sobre seus méritos pessoais e o que os fazia merecer as dificuldades. Era uma sociedade muito individualista, mas que acabou se tornando mais solidária na dificuldade."

"Simplificando: a crise levou os acionistas a colocarem suas ações à venda; devido ao excesso de ações no mercado e à falta de compradores, o preço caiu vertiginosamente. Pessoas ficaram arruinadas. Sem recursos, empresas passaram a conceder férias ou demitir empregados e a economia entrou em depressão - milhares de trabalhadores perderam seus empregos, bancos e fábricas faliram. - efeitos se alastraram mundialmente", disse Pereira.

 


Recuperação

 

Por pior que a situação da economia tivesse se tornado nos meses após a crise de 1929, foi somente em 1933, após a eleição do democrata Franklin Delano Roosevelt, que o governo passou a atuar de forma intensa para tentar contornar a Depressão. Foi nesta época que surgiu o "New Deal", um pacote de reformas para tentar recuperar a economia do país.

"Grandes obras públicas geravam emprego e salário; os salários aumentavam o nível de compra e venda de bens e produtos no mercado; para evitar a inflação, que poderia surgir com o aumento do volume de dinheiro no mercado, o governo passou a controlar os preços; os empréstimos foram concedidos para que os fazendeiros, agricultores pudessem pagar suas dívidas e retomar o crescimento", explicou Pereira.

A recuperação total da economia norte-americana, entretanto, só aconteceria no final da década de 30, quando teve início a Segunda Guerra Mundial, responsável por reativar todo o processo industrial do país.

 


Efeitos globais

 

A queda de mais de 7% da Bolsa de Valores de São Paulo, uma das mais afetadas durante a "segunda-feira negra" deste ano, fez analistas dizerem preocupados com o efeito mundial que uma crise norte-americana desencadearia atualmente. A ligação entre todas as economias causada pela globalização alimenta a tensão de um problema maior de que em 1929.

Em 1929, entretanto, "as economias internacionais já eram ligadas, e ações de um país podiam ter influência em todo o mundo", disse o economista Harold Bierman. "Hoje fala-se em globalização, mas isso já existia na época da quebra da bolsa. A economia global de hoje é mais independente do mercado financeiro, entretanto, e pode passar pela crise sem entrar em uma nova Depressão", completou.

O Brasil, como um país agrário que dependia dos mercados externos, foi duramente atingido pelo "crash" e a depressão norte-americana há quase oito décadas. "Podemos dizer que foi esta crise internacional que levou à queda nos preços do café, alterando o cenário político do país e trazendo Getúlio Vargas à cena nacional", disse Pereira.

"A Revolução de 1930 derruba essa elite, mas Vargas, como Roosevelt, percebeu que o café se tratava de um problema fundamental, já que era a base da economia nacional e fonte de emprego para milhões de brasileiros, assumindo então uma nova política de defesa da cafeicultura, na tentativa de equilibrar os preços e evitar a superprodução. Para isso, proibiu novas plantações durante 3 anos e passou a comprar e destruir todo o café estocado. Cerca de 80 milhões de sacas de 60 quilogramas. Somente no final da década de 1930 o café começou a recuperar os bons preços nos mercados internacionais", completou.

 

 


G1
Crédito: Foto: A fotografia Migrant Mother, de Dorothea Lange, apontada pela revista Life como uma das 100 Fotografias que Mudaram o Mundo. Uma das fotos estadunidenses mais famosas da década de 1930, mostra Florence Owens Thompson, mãe de sete crianças, de 32 anos de idade, em Nipono, Califórnia, março de 1936, em busca de um emprego ou de ajuda social para sustentar sua família. Seu marido havia perdido seu emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.