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QUEM FOI MARCEL MARCEAU (1923-2007)? CONFIRA A BIOGRAFIA DE UM DOS MAIORES MÍMICOS DA HISTÓRIA

Considerado o Rei do Silêncio, foi o maior mímico a nível mundial desde os anos 40 até hoje. Deu uma dimensão ímpar a uma arte dramática de raiz popular. Nova Iorque dedica-lhe um dia desde 1996. Marcel Marceau, que morreu em Cahors, no Sudoeste de França, nasceu como Marcel Mangel em Estrasburgo cinco anos depois da Alsácia ter tornado a ser francesa, mas mudou para nome não judeu sob a ocupação alemã durante a guerra de 1939-1945, tendo escolhido Marceau por ser o nome de um general da Revolução de 1789 encontrado num verso de Victor Hugo - "Hoche no Adige, Marceau no Reno" - primeiro como nome de guerra para a luta clandestina da Resistência contra os nazistas e o regime de Pétain e depois como nome artístico para a vida toda. Em 1944, o pai Mangel, talhante de profissão e barítono amador, foi deportado para Auschwitz de onde não voltaria. Esses anos de desumanidade brutal e de esperança corajosa marcaram para sempre o filho.

 

Marceau não inventou a arte do mímica, que é pelo menos tão antiga como as artes da dança e do teatro, mas foi o seu maior criador e intérprete desde o fim dos anos quarenta do século XX até hoje, não só em França mas no mundo inteiro. A sua primeira passagem pela Broadway teve tal sucesso que foi prolongada por seis meses para lá do contrato inicial e a representação mudada para uma sala maior. Desde 1996, todos os anos a 18 de Março, a cidade de Nova Iorque celebra o Dia de Marcel Marceau.

 

Embora tenha fundado e animado uma escola de mimos (mímica) e, a certa altura, a sua própria companhia, e haja ao longo dos anos participado muitas vezes em espectáculos com "troupes" variadas, as memórias emblemáticas que nos deixou são de um ser solitário, ao mesmo tempo etéreo e divertido, que ou batalhava contra os elementos, ou se maravilhava com os esplendores da vida, ou se ia libertando como podia dos terrores da existência - sempre com a elegância e o sentimento que levaram Jean Costeau a dizer dele: "Entra-nos em casa com pezinhos de lã de ladrão e o à-vontade terrível do luar". Considerava-se em tudo isto praticante do que chamava 'teatro do mimo' que brotara, dizia, do renascimento do 'teatro do verbo', teatro de qualidade que surgira em França pela mão de Jouvet, Dulin, Batt, Pitoff - e também de Decroux, que lhe ensinara 'a gramática do corpo' - como reacção ao 'teatro de boulevard', nas décadas de trinta e quarenta e continuara a seguir à guerra. A maior influência que reconhecia nessa tradição era a de Decroux e, mais tarde, a de Jean-Louis Barrault, que o preferiu a Maurice Béjart para Arlequin no seu espectáculo 'Baptiste' e veio a fazer com ele, no cinema, 'Les Enfants du Paradis', considerado por muito boa gente uma das grandes obras-primas do cinema europeu. Mas desde os bancos de escola a maior inspiração fora Charlot, cuja presença perpassava claramente nalguns personagens que criou.

 

Entrevistado na altura da sua primeira passagem por Lisboa no começo de 1960 (a última foi em Dezembro de 2003), Marceau falou assim do seu trabalho: "A minha arte é poética, profundamente humana, traz consigo uma mensagem que tem raízes populares e, como toda a arte satírica e trágica, é uma arte de vanguarda. O teatro serve para mostrar os vícios, as taras de uma determinada época. Os grandes problemas: a vida, o amor, a morte, o ciúme, a justiça, são eternos e o teatro procura transpô-los recreando". E, muitos anos depois, diria que as suas ilustrações do combate do Bem contra o Mal não visavam causas ou episódios particulares e poderiam aplicar-se a qualquer lugar do mundo onde essa luta se travasse.

 

Quando, no fim dos anos quarenta, Marceau começara a deslumbrar o público, a tradição de mimo quase se perdera em França. Houvera no fim do século XIX três ou quatro grandes nomes, mas tinham morrido sem deixar continuadores. Marceau, apesar de ter tentado fazer escola, tão-pouco os deixa. Talvez os seus padrões fossem altos de mais: "Sinto que fiz pelo mimo o que Segovia fez pela guitarra e Casals pelo violoncelo", disse numa entrevista.

 

Casou-se e divorciou-se três vezes, teve dois filhos do primeiro casamento e duas filhas do terceiro.

 

 

 

Crédito: EXPRESSO.PT