Malas luxuosas e acessórios de cavalaria acompanham os aristocratas europeus em grandes viagens por toda a Europa. O costume, chamado de Gran Tour, era comum na virada do século XIX para o século XX. Em 1899, um maleiro italiano humilde, com apenas 18 anos, aguardava a chegada de hóspedes como esses no Hotel Savoy, em Londres. Ele observava as malas com brasões de famílias distintas da alta sociedade, as luvas, os chapéus e os calçados. Será que foi nesse momento que a paixão de Guccio Gucci pelo couro surgiu? Bom, provavelmente não saberemos, mas podemos imaginar que foi a partir desses olhares atentos que nasceram as primeiras inspirações do que um dia seria a grife Gucci.
Guccio Gucci nasceu em Florença no ano de 1881. A família era de origem toscana, e o patriarca era um artesão, Gabriello Gucci. Mesmo não tendo posses, desde cedo Guccio teve interesse pelo luxo. Costumava andar bem-vestido e sempre muito elegante, sem peças fora do lugar. Após uma briga com o pai, ele se mudou para Paris e, posteriormente, para Londres. Na Inglaterra, Guccio observou o estilo e o lifestyle dos ingleses e percebeu que os britânicos valorizavam a corrida de cavalos, uma referência especial que acompanha a marca até hoje.
No início do século XX, o futuro fundador da Gucci retornou para a Itália. No país, casou-se com Ainda Calveillie. O casal teve seis filhos, e grande parte deles entrou no negócio fashion do pai. Mas o início do que conhecemos atualmente como uma das grifes mais prestigiadas do mundo da moda aconteceu apenas na Florença de 1921. Com todas as suas economias, cerca de 30 mil liras na época, Guccio fundou a primeira loja que deu origem à Gucci, no coração do centro histórico da cidade italiana. A marca focava principalmente em acessórios de viagem, como malas, artigos de couro e, pouco tempo depois, equipamentos equestres.
Design exclusivo e alta qualidade eram algumas características que acompanhavam as criações da loja. Assim, em cerca de um ano, o empreendimento impressionou a sociedade, e o italiano conseguiu contratar alguns dos melhores artesões para trabalhar no seu ateliê. O negócio cresceu e não demorou para que Guccio conquistasse as classes mais altas de Florença. Aristocratas italianos, com o hobby das corridas de cavalos, eram clientes do empresário. Na década de 1930, ele ganhou clientes internacionais renomados que viajavam até a Itália para colocarem as mãos nos acessórios criados pela Gucci. Com a demanda crescente, a fábrica teve mudança garantida para um local bem maior, na cidade de Lugarno.
A chegada a Roma marcou a boa fase nos negócios com uma grande loja, no endereço Via Condotti. Foi também durante esse período que os filhos de Guccio entraram no negócio da família. Inclusive, o icônico monograma de duplo G foi criado pelo filho mais velho, Aldo, em homenagem ao pai. Por volta da mesma época, surgiu a conhecida faixa de duas tiras verdes, interrompida por uma vermelha no centro, em referência às selas utilizadas para montar cavalo.
No entanto, durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, as sanções feitas pela Liga das Nações à Itália tornaram o couro um material escasso no país. Foi nesse ponto que a Gucci teve uma virada: a marca abriu as portas para o vestuário. Assim, tecidos de seda e malharia, por exemplo, passaram a integrar o catálogo.
Os sapatos e bolsas começaram a entrar na linha de produção da grife e, em 1947, surgiu a primeira grande criação da Gucci nessa área: a clássica Bamboo Bag. O modelo teve inspiração equestre, mas adicionou um detalhe um tanto quanto diferente em sua composição: a alça feita de bambu japonês. A bolsa apareceu nos braços de Ingrid Bergman, em 1954, no filme Viaggo in Italia, e tornou a Gucci um verdadeiro símbolo de status para a aristocracia europeia e para as celebridades do mundo inteiro.
Por volta da década de 1950, grandes mudanças aconteceram na grife, a começar pela primeira loja da Gucci em Milão, fundada em 1951 por um dos filhos de Guccio. O acontecimento previa a futura expansão internacional da marca, encabeçada pelos herdeiros do empresário. Entretanto, o mundo perdeu o fundador da Gucci em 2 de janeiro de 1953. Nos seus últimos anos, ele viveu em West Sussex, na Inglaterra. Depois de sua morte, o logo GG virou a marca registrada da grife em sua homenagem. O italiano humilde conquistou seu país e, sem saber, o mundo inteiro, através de suas criações com couro. Como legado, foi responsável pela criação uma das grifes italianas mais tradicionais dos tempos modernos, que completa 103 anos de vida em 2024.